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Entrelinhas de Mulher

Caco, o caracol


Caco, o caracol*

Caco era um lindo caracol. Como não havia nascido na nobre família dos escargots, frequentou uma escola próxima ao seu local de nascimento e, ao crescer, foi “convidado” a morar em um vasto jardim, com o objetivo de servir à cadeia alimentar. Caco não tinha medo de ser devorado por um passarinho faminto e adorava passear pelos jardins. Sem pressa alguma, ia caminhando lentamente por entre as flores e a grama, apreciando a paisagem e recolhendo pétalas.

Esse era seu hobby favorito. Gostava de analisar as cores, texturas e aromas tão diversificados do belo espaço onde residia. Cada pétala encontrada era devidamente guardada na sua concha, mesmo aquelas que eram ásperas e venenosas, ou aquelas que feriram seu manto. Ele entendia que tudo que vinha ao seu encontro era dele e por isso, merecia ser arquivado. O sonho de Caco era encontrar a flor de lótus. Segundo o que havia estudado na escola, era a flor mais rara de todo o planeta, símbolo da pureza e perfeição caracolar.

Certa feita, acordou e começou a caminhada matinal. Ao longe, enxergou um brilho diferente. Primeiramente, julgou ser o reflexo de algum metal arremessado por algum vizinho danadinho. Como o brilho se intensificava, considerou a hipótese de estar errado. Curioso, acelerou o caminhar na melhor velocidade que conseguiu. Sentiu-se lento pela primeira vez na vida. Aquela “mochila” nas suas costas nunca esteve tão pesada. Depois de MUITO esforço, eis que o milagre se manifestou diante de seus olhos: uma flor de lótus. Inacreditavelmente, em meio à lama, nascera a mais bela flor do universo!

Ele não sabe por quanto tempo ficou ali, inebriado com tamanha beleza e luz. Quando voltou a si, olhou ao redor e viu, caída e reluzente, uma pétala lilás prateada: o item mais valioso para um colecionador de pétalas. Ele se moveu em direção àquele tesouro e, do modo mais lento e delicado que conseguiu, pegou a pétala. Porém, ela não cabia na concha. Ele virou, mexeu, apertou tudo que estava guardado, mas não havia meios de caber. Caco ficou desesperado – ele acha um tesouro que não cabe no baú? Que “trollagem” da vida era aquela? Em meio ao choro, uma nuvem se formou diante dele e do meio da nuvem, surgiu um caracol iluminado. Ele se apresentou: “saudações, Caco. Sou o anjo guardião dos caracóis. Vim para te ajudar!”.

Caco coçou os olhos, porque não acreditava no que via. Pensou consigo mesmo: “se isso tudo não for real, o que tenho a perder se eu pedir a ajuda dele?”. Então, cheio de coragem, pronunciou-se: “senhor anjo! Eu achei a pétala das pétalas e não consigo guardar na minha concha! Ajuda-me!”. O anjo sorriu e respondeu: “Claro, Caco querido! É simples: precisamos nos libertar do velho para que o novo tenha espaço nas nossas vidas. Liberte-se de todas as pétalas que não têm mais serventia, daquelas que te lembram momentos de dor e queimaduras, daquelas que perderam a cor e o viço. Você tem todo espaço que precisa, basta se desapegar”. E em seguida, o anjo sumiu em meio a névoa.

Caco exclamou: “é claro! Como não pensei nisso antes?”. E logo começou a selecionar as pétalas para descarte, algumas já amareladas e emboloradas. Uma sensação de vazio se fez… Aquele vazio gostoso, com cor de paz interior, cheiro de harmonia e gosto de liberdade… Quando finalmente concluiu a tarefa, colheu a nova pétala, ciente de que um dia ela também seria devolvida a terra, numa reverência respeitosa ao passado e numa saudação festiva ao futuro.

Fonte: Visual Hunt

Desejo, carinhosamente, que você possa limpar sua concha. Remova a pétala da mágoa pelo presente não recebido, da dor da partida de um amigo, da bronca que recebeu de um professor, da desilusão amorosa, do bullying que sofreu de um “escargot impiedoso” e do coração que entregou a uma borboleta que partiu sem a menor cerimônia. Desapegue de tudo que não agrega valor à sua vida: roupas apertadas, sapatos gastos, bolsas sem zíper, malas sem alça e relacionamentos desgastados.

Abra espaço para o ano que se inicia, permitindo que o novo invada, alegremente, a sua vida!

Fonte: Visual Hunt

Um beijão,

 

Dani

 

*Texto adaptado do livro “Amiga, coloque a calcinha para dentro da calça – e outras conversas, de Dani Lourenço!

 

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