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Entrelinhas de Mulher

Narizite aguda


Narizite aguda

Julinha era uma menina muito curiosa e observadora. Se você a conhecesse acharia que estava com uma criança comum e aposto que não saberia que ela tinha uma peculiaridade em relação às demais.
Julinha tinha uma certa obsessão por narizes.
Estranho? Não! Na verdade, mais comum do que você pode supor…

Para cada pessoa com quem conversava, mesmo que por pouco tempo, ela estabelecia um parecer: nariz feio, nariz errado, nariz desproporcional, nariz de mimimi, nariz de ignorante, nariz de palhaço, nariz de burro, nariz de cavalo e por ai afora!
Nariz perfeito?
Só o dela, claro!

Seria apenas uma mania, se esta atitude não atrapalhasse todos os seus relacionamentos…

Ela metia o nariz em todo lugar, mesmo não sendo chamada

Em sala de aula, a professora Ana, explicava pacientemente o conteúdo e depois gostava de abrir uma roda de conversa para poder ouvir os alunos e perceber quão efetiva tinha sido sua prática pedagógica. Julinha sempre era uma das primeiras a levantar a mão! Empinava o seu narizinho e colocava suas considerações com desenvoltura. Porém, quando os outros colegas começavam a falar, ela interrompia, criticando os narizes deles!

Ela dizia: “Antes de falar, você devia prestar a atenção no seu nariz! Que nariz errado!” e interrompia o fluxo da aula, desagradava os colegas e todo planejamento da “profe” ia por água abaixo!

Você pensa que em casa era diferente? Quando os irmãos conversavam com ela, de repente, vinham aquelas “tiradas narizísticas”:
Pára com isso, você não percebe com seu nariz é tosco? Que nariz de ignorante você tem!

E era da mesma forma na igreja, no clube, no cinema e nas redes sociais! Um mar sem fim de análises de narizes feitos pela nossa pequena Julia.

Até que um dia…

A situação estava beirando o insustentável… Até que um dia, os pais resolveram buscar ajuda especializada.
Chegaram no consultório do Dr. Pedro e depois dos trâmites operacionais de cadastro e pagamento, a família foi conduzida a sala do doutor.
Começaram a narrar os fatos e sua esperança de cura para a filha.

Fonte: Visual Hunt


O médico fez algumas perguntas para complementar a anamnese e declarou que Julia sofria de: narizite desrespeitosa aguda. Uma síndrome que aumenta o ego, limita o bom senso e diminui a percepção de respeito ao outro.
Julia não se conteve e gritou:
QUE NARIZ DE BRUXO QUE VOCÊ TEM! SEU NARIZ É TÃO GRANDE E FEIO QUE TENHO MEDO DE VOCÊ!

Os pais queriam que uma cratera se abrisse no chão para que eles pudessem escorregar até a China, evitando aquele mico supersônico… Porém, o buraco não se abriu. O que se abriu na verdade, foi o sorriso do médico.
E com aquela cara de quem é o Pai da calma, ele apenas respondeu:
O seu nariz também é horrível e nem por isso eu estou gritando com você!

Julinha empalideceu! Como alguém ousava criticar seu belo narizinho? Ela não conseguia concatenar as ideias! Percebendo a deixa, ele prosseguiu:
Como mencionei, minha garota, você sofre sim de narizite desrespeitosa aguda! Algo muito comum nos dias atuais! É uma síndrome faz com que você ataque o nariz alheio e que defenda, ferrenhamente, o seu próprio!
Mas tem cura!

A cura

Logo Pedro voltou com um livro que explicava sobre a beleza da diversidade dos narizes! Que cada pessoa era fruto de uma história: o encontro de duas pessoas, que conceberam um bebê para o qual emprestaram traços de suas ancestralidades e de seu código genético!
Esse bebê nasceu com um narizinho novinho em folha, que foi crescendo e se formando, por meio das experiências que a vida proporcionou!
Enquanto uns narizes cheiraram flores, outros cheiraram esterco! Uns narizes encontraram delicados perfumes e outros fortes odores! E a soma de todas essas experiências olfativas construíram o nariz que cada ser humano carrega, orgulhosamente, no rosto!
O livro ainda revelou um detalhe importante! O nariz é conectado ao coração de cada pessoa!
E, finalmente, o livro ensinou que, se pararmos para ouvir as histórias de cada pessoa, temos como entender o nariz que ela carrega!
Depois da leitura, ele concluiu:
Julia, seu remédio é que, antes de palpitar sobre o nariz alheio, você deverá ouvir as histórias de cada pessoa!

A menina sorriu e respondeu:
– Entendi doutor! Posso começar com você?
Dr. Pedro assentiu com a cabeça e contou a história dele para a menina.

Ela ficou fascinada por perceber que aquele nariz, tão diferente do seu, podia ser interessante e prometeu a si mesma que seria a maior respeitadora de narizes que o mundo já havia conhecido!

Fim? Não! Porque a vida continua!

Agora releia a história, trocando “o nariz” por “a opinião”!

Vivemos em um mundo povoado de Julinhas que saem por ai apontando defeitos nas opiniões alheias, numa atitude infantil e desrespeitosa, sem considerarem que somos frutos de diferentes histórias, diferentes percepções de mundo e por isso, diferentes opiniões (ou seriam narizes?)!
Pessoas que ainda não aprenderam que, quem não está comigo não é meu inimigo!
Pessoas que precisam compreender que a beleza está na diversidade!
Pessoas que necessitam aprender a respeitar!
Pessoas que carecem de amar!

E cá em nós, não é tão difícil né?
Respeitar e amar, é só começar!

Sigo contigo, no respeito e no amor!

Dani

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