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Entrelinhas de Mulher

As árvores, as mulheres e o vento


As árvores, as mulheres e o vento

Da janela lateral do meu quarto eu avisto uma linda palmeira. Amo ficar observando e ouvir o farfalhar das folhas ao vento. Sinto paz e uma serenidade ímpar.

O fato é que minha mente não se contenta em observar as folhas ao vento… Insiste em criar histórias e elaborar hipóteses… E pudera! 

Vou te contar com pormenores o que aconteceu!

Certa tarde ensolarada, estava eu descansada, deitada, atravessada, descabelada mirando minha bela palmeira. Mas, atente-se ao detalhe: não tinha vento nenhum!

Dei uma pirada e lancei a pergunta: “ Hei,  Linda! Você pode me escutar?”

Então, pasmem como eu fiquei pasmada: ela balançou o galho de cima para baixo como se respondesse sim! 

Ri sozinha, sentindo-me malucada. Sentei-me na cama e lancei nova pergunta: “hei, tô maluca ou você me respondeu?”

Dessa vez, ela balançou o galho da esquerda para direita, respondendo-me que não, que eu louca não estava.

Assumi para mim  naquele instante que eu estava sonhando durante um cochilo.  E, né?, já que era sonho, por que não aproveitar?!

Do sim e do não, evoluímos para uma conversa que suponho ter sido telepática ou eu, de uma hora para outra, tornei-me fluente em ” arvorez “.

Ela revelou-me que respondeu por impulso, parecendo-me beirar o arrependimento! Mas, ainda assim, seguiu com as revelações!

Disse que as árvores só se movem quando o vento resolve aparecer. Ficam imóveis em suas copas, temerosas em assustar os homens com sua real identidade e potencialidades!

Minha nova amiga contou-me que as árvores são dotadas de uma inteligência surreal! Conhecem os ciclos da natureza, comunicam-se em rede há milhares de anos, por meio das suas raízes, da terra e da sua ancestralidade. 

São eternas sonhadoras: a cada semente que geram elas enxergam uma nova árvore.

Conhecem os segredos das ervas, a cura pelas folhas e aromas, os ciclos da lua e os segredos da vida: do nascer ao morrer. 

Nesta parte, interrompi a narrativa! Falei: como somos parecidas!

Ela balançou-se em várias direções, revelando uma enorme surpresa e um conflito de ideias. Pareceu-me que revelei algo que ela considerava inacreditável!

Segui com minhas ponderações!

– Amiga e irmã! Somos mulheres! Por muito tempo nos mantivemos imóveis esperando a autorização dos homens para nos movimentarmos tal qual você relata.
Também somos a manifestação da fecundidade na Terra! No nosso ventre são gerados os frutos da vida!
Somos curandeiras. Mantemos uma relação de amor com a terra e seus mistérios! Sangramos todos os meses como as marés sangram nos mares.  
Somos as fases da lua e o calor do sol!

Diante dessas revelações, imagino que ela deva ter se sentido mais segura e continuou a partilha de seu coração!

Ela me falou do trabalho altruísta que fazem, transformando o gás carbônico em oxigênio, purificando com amor o ar que respiramos!

Contou que as flores são presente para elevar a vida, assim como seus frutos que servem para matar a fome daqueles que as rodeiam.

Fiz um reconhecimento por este lindo trabalho e comentei o quanto nós mulheres temos contribuído com a ciência, com a educação, com os governos e com a humanidade!

Um silêncio cheio de paz se fez.

Ela seguiu partilhando! Relatou que elas têm sofrido muito. São irmãs sendo massacradas em nome do poder. Filhas tendo a inocência ceifada em nome da força e do desejo. Lutas insanas com o homem que insiste em lhes diminuir os espaços e a importância.

Chorei com ela e falei sobre estupros, abusos, sexismo e discriminação!

Unidas naquele universo de similitude, ousei perguntei porque nunca se revelaram ao mundo! Por que viviam na obscuridade? Por que não se movimentavam livremente? Por que se sujeitavam ao tempo e ao vento? 

Minha amiga então me respondeu que os homens ainda não estão preparados para saber quem elas são de fato! Ainda não têm alcance para conviver com esse milagre vivo e, assim, elas, submissas a essa condição, calam-se, resignadas, esperando o vento chegar.

Então ela lançou uma pergunta que calou fundo o meu coração:

– Todas as mulheres já estão libertas conforme narras?

Não amiga árvore, respondi! Alguns corações de mulher ainda ficam esperando o vento chegar! Mas estamos nos unindo! Estamos dando as mãos umas às outras para que o nosso clamor seja o vento que nos impulsiona! Estamos redescobrindo a conexão que nos faz sermos uma por todas e todas por uma! Estamos entendendo que sozinhas ficamos “imobilizadas” mas juntas, somos O movimento que transforma, cura e edifica!

Ela agradeceu! Eu agradeci!

Abraçamo-nos em energia e cada qual mergulhou em seu universo particular pensando em como compartilhar essa linda experiência E eu decidi escrever pra você!

Vem ser movimento comigo!

Sigo contigo no amor,

Dani

Agradeço a professora Ana Rosa Tezza pela partilha de seus saberes e pelo espaço de fala que inspiraram este texto!

Agradeço a Márcia Castro pelas leituras e conversas que deram uma nova forma ao meu relato!

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