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Viagens e Turismo

DESABAFO: COMO CONSEGUI O EQUILÍBRIO EMOCIONAL ESTANDO NO MEIO DE UMA CRISE?


E se essa crise for uma crise mundial?

E se essa crise for, nada mais nada menos, do que uma pandemia que vem assustando o mundo inteiro?

E se você estiver em um dos maiores focos em que se alastra essa doença, quando ela começa a crescer?

E se você começar a receber mensagens preocupadas dos seus amigos e familiares?!

Ahhh, dá uma vontade grande de sair correndo, mas… e se CORRER significa abandonar um dos seus maiores SONHOS da vida?

Pois bem, meu nome é Mathisa, tenho 34 anos e estou realizando um dos maiores sonhos da minha vida: passar 53 dias viajando pela Europa.

Viemos para cá no dia 6 de fevereiro e nosso primeiro destino? ITÁLIA.

Amamos a Itália e ficamos 22 dias por lá, exatamente quando o coronavírus começou a se espalhar intensamente naquela região.

Eu e o Renan, meu digníssimo, temos a flexibilidade de poder trabalhar à distância. Ele há 6 anos já tem esse estilo de trabalho home office e eu estou aprendendo a trabalhar assim desde o ano passado e, ah, por falar no ano passado…

… foi um ano extremamente difícil para mim.

Minha avó faleceu, e ela era uma parte GIGANTE da minha vida. Esse foi um dos piores momentos que eu me recordo, o processo de luto ainda está acontecendo e…

… eu tive muita dificuldade para me adaptar ao novo formato de trabalho, de encarar a realidade de ser agora uma empreendedora. Consegui fazer bastante dinheiro, consegui me sentir feliz e me sentir produtiva em alguns momentos, mas ainda assim minha auto cobrança acabou prejudicando demais todo o processo e eu fiquei com o emocional muito fragilizado.

Planejar essa viagem foi um presente, foi uma válvula de escape, uma forma de vislumbrar um novo começo, de me sentir merecedora de tudo de bom que iria viver!

Conforme ela ia se aproximando, a ansiedade normal ia batendo, mas as notícias sobre o coronavírus foram começando. Quando fomos para o aeroporto de Guarulhos já vimos algumas pessoas usando máscara e para poder fazer check in tivemos que atestar que não fomos para a China nos últimos meses.

Mas tudo bem, isso me deu um certo desconforto, mas nada que me fizesse querer desistir e voltar pra casa.

Depois de quase 30h de voos e passeios rápidos, chegamos em Roma no dia 9 de fevereiro e, antes da alfândega, agentes de saúde mediam a temperatura de todo mundo. Eles já sabiam que tinham alguns casos confirmados na Itália. Mas essa medida de ver a temperatura é pouquíssimo eficaz, já que o infectado pelo vírus pode demorar até 20 dias para apresentar sintomas…

Enfim, vida que segue. Roma foi maravilhosa, ela é maravilhosa, e depois de Roma fomos para Florença e foi lá que o bicho pegou.

Comecei a receber mensagens do meu pai, da minha mãe, de amigos próximos e conhecidos distantes… Muita gente demonstrando preocupação comigo, pois os holofotes estavam apontando para a Itália. E eu estava na Itália.

Vamos voltar àquela parte que eu disse que ano passado não foi um ano bom na minha vida, que eu estava emocionalmente frágil e, bem, o ano novo mal começou, então não posso dizer que já estou muito mais forte que em 2019…

Essa viagem era para representar o meu recomeço. Meu grande sonho combinado a uma nova forma de vida e de ganhar dinheiro. Era a prova final de que eu posso combinar uma vida profissional bem sucedida com a liberdade que eu tanto amo…

Porém tudo foi um pouco ofuscado pelo medo, a insegurança, pelo sentimento de vulnerabilidade diante do desconhecido. Pela sensação de poder estar sendo inconsequente comigo mesma, com a minha saúde, de estar ignorando uma ameaça real.

Conforme esses pensamentos começaram a surgir e as mensagens começaram a chegar, eu fui ler e me informar sobre a periculosidade do vírus e fui descobrindo que ele é bem menos perigoso do que se parece. Li que a taxa de mortalidade é alta em idosos e pessoas que já têm alguma doença debilitante. Isso foi de um certo alívio, mas ainda assim a sensação era de estar exposta.

Fiquei quase 4 dias inteiros, dos 10 em Florença, dentro de casa. Sem por nem o pé na sacada.

Não fiz isso só pelo medo, eu estava num momento de trabalho intenso, muitas coisas a serem feitas ao mesmo tempo, trabalhava até tarde, reuniões, acordava cedo, mas certamente deixei de conhecer algumas coisas por um excesso de precaução.

Bom, chegou a hora de sair da Itália, a Alemanha era o próximo destino e, agora, o medo era de não poder entrar lá. De sermos parados na alfândega. De sermos colocados em quarentena.

Quando já estávamos no aeroporto, nosso avião começou a atrasar. Primeiro 15 minutos, depois 1 hora, por fim 1 hora e 40 minutos.

Em viagens normais eu pensaria que “isso acontece, aviões atrasam o tempo todo”, mas naquele momento eu comecei a acreditar que a Alemanha tinha fechado a fronteira com a Itália e que estaríamos presos ali, sabe deus por quanto tempo, perdendo nossas reservas e sem onde dormir durante a quarentena.

Mas bem, eu sei que estou fragilizada, mas não sou nenhuma doida, então nesse momento de espera para saber se iria viajar ou não comecei uma reflexão (confesso que a reflexão foi feita sob efeito de umas boas taças de vinho, o que talvez tenha ajudado um pouco, mas isso não tira o seu mérito):

Manter o equilíbrio emocional diante de uma crise é, principalmente, buscar a compreensão dessa crise, trazer para o racional o que está acontecendo, tirar de lado as influências emocionais (do medo, por exemplo) e as influências externas (medo dos outros, por exemplo) e focar somente nas informações concretas sobre a situação.

Buscar equilíbrio é não se deixar levar e ir em direção a um ataque de nervos.

Eu estava à beira de um ataque de nervos quando houve o primeiro atraso, surtada, andando de um lado pro outro, tentando ouvir o que as pessoas falavam entre si.

Como desgraça pouca é bobagem eu ouvi um senhor falando inglês ao telefone, ele estava indo para Frankfurt no mesmo voo que a gente, mas a palestra que ele estava indo dar numa universidade foi cancelada devido ao medo do vírus. Depois de desligar o telefone ele pegou suas coisas, colocou sua máscara e foi embora. Abandonou o voo. 

Nesse momento, enchi novamente minha taça de vinho e então comecei a pensar: eu tenho basicamente duas opções diante de mim agora.

A opção 1 é abandonar o vôo e o Renan, porque com certeza ele não vai comigo, pois ele está calmo e lindo trabalhando esse tempo todo em que eu surto, ou opção 2 relaxar, abrir mão dessa ansiedade e me apegar aos fatos, de que a Itália tem excelentes estratégias de defesa civil e que iria nos tratar bem caso ficássemos em quarentena (eu tinha cer-te-za de que enfrentaríamos uma quarentena…), que é apenas dinheiro e se não fossemos à Alemanha seria chato, pois era a parte que eu estava mais ansiosa da viagem, mas talvez fosse o melhor.

A partir desse momento sabe o que aconteceu?

Eu ganhei a minha viagem de volta!

Juro.

Fiquei calma de novo. Enchi a taça mais umas duas vezes e voei para Alemanha lindamente feliz. Curti a viagem em si, curti chegar e ler aquelas placas em alemão, idioma difícil, curti o primeiro jantar perto do hotel, curti tudo!

No aeroporto: zero controle de entrada. Durante os dias que se seguiram: zero mascarados nas ruas. Tudo seguiu da forma linda como planejei, com direito a castelo da Disney e neve no último dia!

Nesse momento estou na França, numa cidadica relativamente perto da fronteira com a Itália. Terei mais 13 dias por aqui, depois os últimos 12 serão na Espanha, ou seja: mais 25 dias se apresentam à minha frente.

Os casos estão aumentando, a Itália tomou medidas sem precedentes de isolar todo o norte do país, realmente a situação é alarmante, mas agora eu pergunto: sou eu uma tremenda azarada por ter o meu sonho posto a prova por causa de uma situação tão absurdamente grande, ou sou eu a maior sortuda desse mundo, pois essa viagem está me trazendo mais aprendizados do que eu jamais poderia imaginar?

Aprendizados sobre desapego, sobre ser feliz, mesmo que estando sem controle do que pode acontecer, sobre gerenciar minhas expectativas e aceitar que a vida acontece, mesmo que não sendo sempre do jeito que planejei ou esperava…

É, eu vejo que meu equilíbrio voltou quando eu decidi VIVER, independentemente do que isso signifique!

Pensando, sim, sobre os riscos do caminho, mas não me deixando abater e muito menos abrindo mão dos meus sonhos por causa de possíveis mudanças no meu trajeto!