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Entrelinhas de Mulher

Entrelinhas de Mulher – Dia das Crianças


Há uns quinze dias uma rede de televisão me procurou, pedindo para gravar uma entrevista sobre o Dia das Crianças. O enfoque da matéria era sobre os celulares, visto que este artefato se tornou o “brinquedo” favorito da criançada.

“-E ai Dani? Pode dar um celular para a molecada?” – pergunta-me o repórter. Como pedagoga e estudiosa do assunto, não me omiti. Ponderei que a decisão é de cada família mas que valia a pena considerar as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria que não recomenda o uso frequente na primeira infância. Também mencionei que os pais deveriam analisar se teriam o tempo necessário para supervisionar o uso dos aparelhos, se estariam aptos a orientarem o uso ético e responsável do celular e das redes sociais, dentre outras considerações pontuais.

No final da entrevista, ele perguntou se eu tinha alguma dica para os pais, de presentes legais, para o dia das crianças. Respondi que sim… Que tinha uma dica superbacana que poderia ajudá-los. Recomendei que cada pai e cada mãe lembrasse o fato mais significativo, feliz e marcante da sua infância que, certamente, seria uma memória cheia de afeto e amor… Que perguntassem aos filhos qual a coisa que eles mais curtem fazer com os pais e que, certamente, seriam atividades cheias de afeto e amor. Finalizei, comentando que a minha dica era que propiciassem uma
experiência afetiva com os filhos.

Confesso que depois que terminei a entrevista, fiquei em dúvida. Será mesmo que todo mundo, se
fosse arguido, responderia um fato que envolvesse memórias afetivas? Será que ninguém falaria
de presentes?

Resolvi fazer uma sondagem nas redes sociais, completamente despretensiosa e sem cunho
científico, somente para “validar” a minha percepção.

Confesso que foi uma das mais amorosas lições que a vida me trouxe. Li mais de trezentas contribuições repletas de afeto, saudades, respeito e de muito amor. Muita presença e pouquíssimo “presente”.

Ficou claro pra mim a importância da família na infância, representado pelas recordações que falavam de pais, avôs, irmãos, tios e primos. Amor esse que fica eternizado pelas saudades – dor de quem amou.

Frases singelas e profundas que enterneceram meu coração: “saudades do colo do meu pai!”.

“Saudades de brincar de boneca com minha mãe!” “Saudades de ir para a cama dos meus pais aos domingos”. “ Saudades do cheiro da minha avó”. “Saudades de brincar com meus primos sem medo de ser feliz”.

E quão especial são as noites de Natal, as festinhas de aniversário, os domingos de Páscoa porque estamos com nossa parentela! “Tempo juntos!”

Compreendi a dimensão do brincar na vida de uma criança! Seja de amarelinha, elástico, pique- esconde, pega-pega, caçador, bambolê, polícia e ladrão, futebol, subir nas árvores, andar de bicicleta, montar uma cabaninha, brincar de casinha e  boneca de papel, as brincadeiras são assunto sério e responsáveis por lindas memórias.

Entendi que na infância, o dinheiro não tem o menor valor, porque tudo o que conta é ABSOLUTAMENTE DE GRAÇA: ouvir uma história antes de dormir, subir no pé de manga, brincar na rua, dormir no paiol, picnics, escorregar o morro com caixa de papelão, balançar-se na rede, fingir dormir para o pai carregar para a cama, banho de lama, de regador, de mangueira, de chuva, de rio e de mar.

Percebi que a melhor comida do mundo é aquela temperada com amor. Um arroz com feijão cheirosos, leite quente, pão de queijo, suco de laranja, bolinho de chuva, doce de figo, miojo, suspiro colorido, Maria Caxuxa, bala Soft, docinho de abóbora, pipoca e bolo com chá.

Depois que li todas estas lembranças lindas, confirmei que o que importou na nossa infância foi o tempo que passamos junto com aqueles que amávamos, as experiências que compartilhamos, as conexões que estabelecemos – que somados – são as nossas melhores memórias! As memórias do coração!

Conclui que minha dica tinha sido acertada. Talvez mais que isso… tinha sido valiosa…

Que nosso maior esforço e preocupação não sejam com o presente no Dia das Crianças, mas sim em estar presente para as crianças todos os dias, assegurando-nos que daqui a alguns anos elas possam lembrar, com amor e saudades, de tudo que viveram – hoje – conosco!

Por Dani Lourenço