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Vamos falar de Autismo?

Pesquisa brasileira com astrócitos lança novos horizontes possíveis para o autismo


Um componente que até então era conhecido apenas como uma espécie de “capa” dos neurônios passou a ser visto com novos olhos pela comunidade científica depois que um grupo de pesquisadores brasileiros apresentou no ano passado os primeiros resultados de uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP).

Os pesquisadores doutores Fabiele Russo, Beatriz Freitas, Graciela Pignatari, Isabella Fernandes, Jonathan Sebat, Alysson Muotri e Patrícia Beltrão-Braga, em sua maioria biólogos, perceberam que os astrócitos provavelmente contribuem para o desenvolvimento do autismo. “Os astrócitos contribuem para uma neuroinflamação no cérebro de indivíduos com autismo idiopático, e isso produz alterações nos neurônios que provavelmente contribuem para o quadro clínico do TEA”, explica dra. Patrícia.

Não se pode falar em cura do autismo – especialmente porque há décadas ele já não é mais considerado uma doença –, mas os desdobramentos da pesquisa podem trazer novas luzes para a pesquisa em autismo e mudar completamente o caminho do tratamento do TEA. “Quando se conhece os mecanismos de uma patologia podemos buscar caminhos de controlar e compensar essas alterações”, comenta a dra. Patrícia, neurocientista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

“Antigamente se acreditava que os astrócitos eram apenas uma espécie de suporte físico para os neurônios. Atualmente, isso mudou. Verificamos que os astrócitos são na verdade muito importantes no TEA. Estas células são responsáveis por sustentar e nutrir os neurônios e estão envolvidos em milhares de atividades cerebrais. Se o astrócito estiver “doente” não adianta tratar o neurônio, nossos resultados mostraram que precisamos estudar mais os astrocitos e testar drogas nestas células, pois se “curarmos” os astrócitos, aparentemente os neurônios se recuperarão”, adianta a dra. Fabiele Russo, também neurocientista do instituto.

O que isso significa na prática? Que, sabendo qual parte do neurônio é de fato afetada pelo TEA, é possível investir em maneiras de tratar também com medicamentos. Para acelerar o processo, antes de desenvolver novos compostos, as pesquisadoras vão testar se algum dos medicamentos que já existem para outras patologias poderia ter efeitos sobre os astrócitos que apresentam este desvio.

“Vamos testar agora medicamentos que já estão aprovados, o que chamamos de reposicionamento de drogas, para assim agilizar possíveis tratamentos, mas diversos testes ainda deverão ser realizados”, explicam as pesquisadoras Fabiele e Patrícia.

O que são os astrócitos?

 

O neuropediatra Paulo Liberalesso explica que, embora habitualmente se fale mais sobre os neurônios, o cérebro humano é constituído por diversos tipos de células. “As células da glia, por exemplo, são células presentes no cérebro em grande quantidade. Há dez vezes mais células da glia que neurônios em nosso cérebro”.

Segundo ele, durante muitos anos pensou-se que a glia serviria somente para dar suporte ou sustentação e nutrir os neurônios. “Mas, pesquisas mais recentes mostraram que isto não é verdade.

Uma das principais células da glia são os astrócitos, que recebem este nome por que, geralmente, possuem diversas ramificações celulares, lembrando a forma de uma estrela”

De acordo com o médico, os astrócitos estão muito próximos dos neurônios, praticamente “grudadas”. “Embora sejam responsáveis em grande parte pela manutenção da nutrição dos neurônios, os astrócitos apresentam diversas outras funções, incluindo a modulação de parte do comportamento neuronal. Ou seja, os astrócitos influenciam diretamente no funcionamento dos neurônios”

Veja como!

Os astrócitos produzem determinadas substâncias, que chamamos de transmissores.
Os transmissores atuam sobre a funcionalidade dos neurônios e podem alterar o fluxo de cálcio pela membrana neuronal e modular a expressão de um neurotransmissor excitatório chamado glutamato.

O glutamato é um neurotransmissor muito importante em diversos processos do funcionamento do neurônio e também é fundamental em determinadas fases da transmissão de informações entre estas células.

O que pesquisadores brasileiros demonstram é que em cérebros de pessoas com autismo, os astrócitos podem apresentar um funcionamento alterado. Isso, de algum modo, afetaria o funcionamento dos neurônios desencadeando os sinais e sintomas típicos do transtorno do espectro autista.

Estas alterações nos astrócitos fazem com que os neurônios percam parte de suas ramificações celulares e, consequentemente, isso afetaria a forma como um neurônio se comunica com os demais neurônios e o próprio funcionamento celular.

Fonte: Dr. Paulo Liberalesso, mestre em Neurociências e doutor em Distúrbios da
Comunicação Humana.

400 fadas madrinhas

A pesquisa realizada pelo grupo de neurocientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP começou com o projeto Fada do Dente, desenvolvido em 2009.
“Foi quando percebemos que os dentes de leite poderiam ser uma fonte de células ideal para reprogramação e estudo de patologias que acometem o cérebro”, conta Patrícia. Desde então, elas iniciaram um processo de coleta de dentes de leite de crianças com autismo, doados pelos pais. “Nós já recebemos doações de mais de 400 crianças com TEA e cerca de 30 doações de dentinhos de crianças neurotípicas que são utilizadas como controle em nossos estudos”, explica Dra. Fabiele, que completa: “Para este estudo recentemente publicado estudamos 3 indivíduos com autismo e 3 controles, pelo fato de ainda ser uma tecnologia muito cara, estudamos um pequeno grupo, mas
pretendemos aumentar este número agora”.

Com os resultados preliminares em mãos, elas podem ainda investir em novas etapas do processo e intensificar a pesquisa. “Acreditamos que nosso estudo abre novos horizontes para as pesquisas no campo do TEA, trazendo contribuições para a comunidade científica e, sobretudo, aos pacientes, que poderão se beneficiar de intervenção terapêutica direcionado para sua especificidade dentro do TEA”, completa Dra. Fabiele.

Assista ao vídeo publicado pelo Canal USP no qual as neurocientistas explicam mais
detalhes sobre como funciona a pesquisa!

https://www.facebook.com/cienciausp/videos/614660075324872/

Mais informações: www.superspectro.com.br

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