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Vamos falar de Autismo?

Autismo – como driblar a seletividade alimentar


Seletividade alimentar é agravada em pessoas com autismo, mas é possível driblá-la

– Meu filho não come alimentos verdes!

– Minha filha não come nada que seja crocante!

– Meu sobrinho não come nada além de lanches e sucos!

Frases como essas são comuns entre familiares de pessoas com autismo, já que pessoas do espectro frequentemente possuem uma elevada seletividade alimentar.

De acordo com a nutricionista especialista em nutrição e gastronomia funcional e autismo Adriana Siqueira, a seletividade é comum entre crianças, principalmente após os dois anos de idade, onde começam as escolhas alimentares.

“Na seletividade alimentar, há uma diminuição da variedade ou quantidade de alimentos. Entre
crianças típicas, 30% delas se enquadram em um dos casos de seletividade alimentar, porém
entre neuropatias (autismo entra nesta categoria) esse número pode chegar a 80% dessas
crianças”, explica Adriana, que tem capacitação em seletividade alimentar.

Nesses casos, quando alguém lhe oferece um alimento, a criança recusa, vira a cabeça, deixa tudo no prato ou apresenta outros comportamentos similares. Veja no infográfico como identificar a seletividade alimentar:

Passo a passo para lidar com a seletividade alimentar

Muitos pais interpretam a recusa a um determinado alimento como birra, acreditam que será uma fase ou então deixam a criança sem comer “até que tenha fome”. Antes de partir para essas conclusões e atitudes, que tal buscar a causa da seletividade?

“Deve-se primeiro de tudo investigar possíveis causas orgânicas que influenciam este
comportamento, como alergias alimentares, doenças intestinais inflamatórias, prematuridade, doença celíaca, doença de refluxo gastresofágico, problemas cardiorrespiratórios e digestivos”, explica Adriana.

Se, descartadas essas condições, outra sugestão é buscar se a criança não tem algum problema muscular orofacial e se ela tem um desenvolvimento adequado de mastigação e deglutição.

“Além destes, a disfunção sensorial e comportamental é muito comum nas crianças com TEA e descartadas todas as possibilidades de causas orgânicas (até 90% de casos de seletividade extrema) serão estas últimas as questões a serem trabalhadas em terapia”, orienta.

Crianças que possuem dificuldade no processamento sensorial podem, por exemplo, selecionar alimentos que sentem mais conforto e dificilmente aceitam mudanças. “Comem geralmente alimentos crocantes ou fáceis de mastigar e na presença de purês ou alimentos mais molhados
podem engasgar ou até vomitar”, exemplifica a nutricionista.

Identificar precocemente os sinais de uma possível alteração no processamento sensorial pode
colaborar e garantir o aprendizado alimentar positivo para a criança, diminuindo situações de
trauma e recusa.

Mas como intervir? Algumas das atitudes possíveis são até mesmo desconectadas, à primeira
vista, da própria alimentação. “Em alguns casos, mudando estrutura e organizando a `casa`
muitas crianças seletivas melhoram do quadro, geralmente é aquela criança que não apresenta
seletividade extrema”, explica.

Se abordado adequadamente, o processo de seletividade se reverte, na grande maioria dos
casos. “Encontrar o problema, tratar com equipe multidisciplinar com nutricionista, fonoaudióloga,
terapeuta ocupacional e em alguns casos psicólogo, é fundamental, mas infelizmente ainda
temos poucos profissionais que tratam a seletividade como um problema”, comenta.

Meu filho não come quase nada: devo me desesperar?

“É comum, como pais, tentarmos alimentá-los diversas vezes e nos sentirmos frustrados. Procurarmos profissionais que não nos ajudam e ainda dizem para deixar sem comer que com fome eles comerão. E comum preparar pratos e mais pratos e acabar indo tudo para o lixo. Certo dia, deixamos de lado e desde que ele coma o que aceita no momento, é suficiente para nós. É compreensível porque não sabemos como proceder, depois de tantas tentativas, pressão, obrigação e estresse familiar”, diz Adriana.

A primeira coisa a ser feita, na visão da nutricionista, é adequar o plano alimentar de forma a
estruturar uma mudança gradativa que a criança não sinta e que incorpore macronutrientes,
suplementos e quantidades diárias do alimento. “Isso pode ser rápido ou demorar de acordo com
a seletividade e quantidade de alimentos que essa criança consome”, pontua.

Enquanto o plano está em desenvolvimento, o segundo passo é estruturar a casa e a família, em
um ambiente adequado, calmo e prazeroso junto com o alimento. “Recomeçar! Assim o estresse
e ansiedade dão lugar a esperança e vontade de mudar e ajudar. Uma equipe de avaliação
multiprofissional seria o ideal no tratamento de seletividade, porém muita coisa pode ser feita em
casa”

De acordo com a nutricionista Adriana Siqueira, fazer refeições em família, com participação
ativa da criança no preparo dos alimentos, estimulando sua curiosidade pelos aromas, texturas,
cores, sabores dos alimentos, é um exemplo de ação muito bem sucedida. “Gerar autonomia
para se alimentar sozinha (self-feeding), sem a coerção do adulto; atividades que podem ser
aplicadas para ajudar na seletividade alimentar são atividades que trazem a exploração dos
alimentos como brincar, plantar, ler, informar, comprar, educar (jogos e aplicativos), cozinhar e
quem sabe…..comer juntos”.

E, acima de tudo, ter paciência e dar o tempo necessário para a criança se ajustar às novidades.

“O processo geralmente é lento, requer paciência e determinação dos profissionais e família, porém se não trabalhado dificilmente essa criança terá uma alimentação sem dificuldades no
futuro”, completa.

Fontes:
Junqueira, P.; (2017) Relações Cognitivas com o Alimento na Infância: abordagem ampliada e
integrada. Volume V. São Paulo ILSI, BRASIL Morris, S., & Klein, M. D. (2000).
Pre-feeding skills: a comprehensive resource for mealtime development (2nd ed.). USA: Vital &
Marts. PENSI, (2017) Simpósio de Dificuldades Alimentares. Instituto Pensi
Instagram – Adriana Siqueira: @nutricaofuncional_autismo

Mais informações: www.superspectro.com.br

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