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Vamos falar de Autismo?

Como lidar com uma crise de uma criança com Transtorno do Espectro Autista?


Como lidar com uma crise de uma criança com Transtorno do Espectro Autista?

Quem convive com pessoas autistas, especialmente crianças, sabe que as crises são algo que fazem parte da sua rotina e podem ser algo extremamente desgastante para todos.

Segundo a psicóloga Suzane Lohr, existem diversos fatores que podem interferir nesse processo e desencadear uma crise, assim como ela pode vir em mais do que um formato.

Por isso, embora não exista uma receita para ser seguida nesses momentos, há alguns passos que podem ser seguidos e que podem ajudar a passar por estes momentos com um pouco mais de tranquilidade.

Confira as sugestões da psicóloga Suzane Lohr, que é mestre e doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo e professora do Programa de Pós graduação em Educação da UFP

1- Respirar fundo e acalmar-se

Sabe aquela recomendação que escutamos no avião, segundo a qual, em uma situação de emergência, os adultos devem primeiro colocar a própria máscara, para depois ajudar as crianças à sua volta a colocar as delas? Em uma crise de uma criança do espectro autista, a recomendação é exatamente a mesma. “Primeiro de tudo, os adultos devem tentar ao máximo controlar seu próprio nervosismo e manter a calma. É só assim que vão conseguir compreender melhor o momento e identificar as causas que podem estar levando a criança a uma crise”.

2- Encontrar o gatilho

Reações como gritar, debater-se, se jogar no chão ou até mesmo mais extremas, como se autoagredir (bater na cabeça ou bater a cabeça contra algo, morder os braços ou bater os punhos em algo), por exemplo, são exatamente isso: reações a algo.

Esse “algo”, o gatilho que está desencadeando a crise, é o fator que precisa ser encontrado para que se possa lidar com o que está se passando. “Normalmente, alguma coisa no ambiente está incomodando a criança. Uma mudança sem aviso, um objeto, um som que para o adulto é quase inaudível. Se, por exemplo, alguém está cortando a grama na mesma quadra e a criança não está familiarizada com este som, isso pode fazer com que ela se desestabilize. Como nem sempre ela consegue expressar isso verbalmente, pode ser que ela não encontre outra forma de reagir a este barulho além de gritar ou iniciar uma estereotipia”.

3. Respeitar as sensibilidades da criança

Além de ajudar a identificar mais rapidamente qual é o causador do problema, manter a calma durante uma crise de uma criança com autismo também faz com que o adulto que está com ela neste momento consiga controlar melhor suas próprias atitudes, sem tom de voz e a maneira como ele toca na criança.

“Se o filho tem sensibilidade ao toque e o pai tenta acalmar fazendo movimentos leves nos braços dele, isso vai agravar a crise. Por outro lado, há crianças que se acalmam com movimentos leves e repetidos. Da mesma forma, a quantidade de estímulos sonoros pode ter efeitos mais pesados sobre aquela criança, então se alguém tenta pedir que ela se acalme, isso pode se tornar apenas mais um estímulo e agravar a situação. Por isso é tão importante conhecer as sensibilidades e as características da criança e levar isso em consideração ao agir”, orienta a psicóloga.

Em muitos casos, falar com firmeza de forma a desviar a atenção da criança do agente causador da crise também pode ajudar. “Se a crise acontece na hora de sair porque a criança não quer colocar o sapato, a mãe precisa olhar para criança, chamá-la pelo nome e dizer claramente: ‘filho, nós só vamos sair quando você colocar o sapato. Coloque o sapato e vamos até lá’, e, em seguida, desviar o foco para algo que acalme e que a criança se interesse, evitando voltar ao problema”.

4. Evite levantar a voz

Uma crise de uma criança do espectro autista pode desestabilizar também o adulto que está responsável por ele de forma gradual, escalando aos poucos conforme a situação se estende e não se consegue resolver. Mesmo nestas situações, busque observar o tom da sua voz.

“Falar com firmeza e dar comandos de voz é importante, mas levantar a voz pode fazer com que a criança se desorganize ainda mais”. Assim, comandos como “feche a porta”, “calce o sapato” e “vista a camiseta” podem ser mais eficientes.

Essa fala firme deve acontecer mesmo nos momentos de crise e não se deve voltar atrás nos comandos já dados, para evitar que a criança pense que, com ela, consegue atender seus desejos. “Se, após a ordem de calçar o sapato, a criança começou a gritar, e a mãe então retira o comando e permite que ela saia sem o sapato, a criança vai entender que gritar é uma forma de conseguir sair sempre sem o sapato”, aponta.

Outra dica importante da Dra. Suzane Lohr é evitar um tipo de construção de frase que é muito comum ao conversar com crianças. “Muitas vezes falamos com os filhos na terceira pessoa: a mamãe vai fazer isso, a mamãe vai preparar aquilo. Isso deve ser evitado, especialmente em crianças com TEA, pois pode criar uma confusão na mente da criança e estimular que ela também fale em terceira pessoa”.

5. Uma crise ou muitas?

Converse com as outras pessoas que fazem parte da rotina da criança. Pai, mãe, avós, tios, irmãos, tutores, professores, terapeutas e demais envolvidos devem sempre dialogar e mencionar situações de crise que tenham presenciado.

“Se a professora comenta com a mãe que o filho teve uma crise em determinado momento, juntas, elas podem perceber os elementos em comum entre as duas situações.

‘Ah, quando ele estava comigo também foi em tal lugar, ou também tinha tal som, ou também estava com esta roupa’, por exemplo”, observa.

Ao entender melhor o contexto em que a crise aconteceu, você ajuda a evitar a recorrência e torna o dia a dia da criança mais agradável para ela e para as demais pessoas à volta dela.

Mas lembre-se, não há uma receita de sucesso e cada crise é única, assim como cada criança do Espectro Autista. Então, caso elas aumentem de intensidade e de frequência e

você não consiga identificar os motivos, procure ajuda. Um psicólogo pode ajudar a conhecer a dinâmica da família e da criança e melhorar muito a qualidade de vida de todos.

Mais informações: www.superspectro.com.br

O documentário sobre autismo, “Em um Mundo Interior”, de produção brasileira, lançou nesta semana (02) seu primeiro trailer. O filme estreia nos cinemas no dia 31 de maio de 2018.

Ao longo de dois anos, os cineastas Flavio Frederico e Mariana Pamplona acompanharam a rotina de sete famílias de diferentes classes sociais e regiões do Brasil. A experiência é ponto de partida do documentário, mosaico de histórias conectadas pelo diagnóstico do autismo sob a perspectiva da inclusão.

Confira o trailer abaixo:

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